Desde a demissão de Dorival Júnior, no fim de março, muitos nomes já foram especulados para assumir a seleção brasileira, inclusive estrangeiros, em uma lista que conta com Abel Ferreira, Jorge Jesus e até mesmo Carlo Ancelotti.
Em entrevista à ESPN, o ex-volante Emerson, que defendeu a Amarelinha por muitos anos, opinou sobre a busca por um substituto para Dorival. E se tratando de estrangeiros, revelou preferência por um nome em especial: Ancelotti.
Comandado pelo italiano durante a sua passagem pelo Milan, entre 2007 e 2009, o ex-jogador explicou por que vê Ancelotti como única opção que contrataria entre os estrangeiros e disse por que nem mesmo Pep Guardiola, comandante do Manchester City, seria ideal.
“Eu sempre fui contra (técnico estrangeiro), digo que sou um cara muito brasileiro. Nunca gostei da ideia de um estrangeiro ser treinador da nossa seleção. Estive dez anos dentro da seleção e sempre vi que temos uma cultura diferente, o Brasil é diferente. É diferente de outros países a forma como joga, e eu nunca imaginei que pudéssemos chegar até esse ponto, de verdade. Eu sempre achei que o Brasil sempre teve bons profissionais, treinadores que pudessem estar à frente da nossa seleção”, começou por dizer.
“Mas ultimamente estamos tendo problemas, adoro muito o Dorival, a pessoa e tudo, mas a gente sabe que o problema não é apenas o treinador. Tem muita coisa. O fato de ter o Ancelotti como opção acho que seria boa, seria o único estrangeiro, hoje, que eu apostaria realmente, em função da forma como ele é, de já conhecer o futebol brasileiro, gostar dos brasileiros, ter trabalhado com muitos brasileiros”, prosseguiu.
“Eu acho que esse treinador tem um perfil para isso, e a forma como o time dele joga, isso tudo tem a ver com o que nós pensamos. Para mim, seria o único treinador estrangeiro que eu, Emerson, pensaria e teria como opção para a nossa seleção”.
“Agora, claro que é apenas um desejo, porque como ele bem fala ‘eu estou empregado, eu sou treinador do Real Madrid‘. A gente não sabe o que vai ser o futuro, mas seria o único treinador estrangeiro que eu realmente pensaria nesse momento. Não desdenhando dos outros, nem (do) Guardiola, pela sua capacidade, nada disso, mas o único treinador estrangeiro que eu pensaria, no momento que estamos passando, que poderia ser o treinador da seleção brasileira”, concluiu, elogiando o trabalho do italiano e revelando que ele gosta de jogadores brasileiros.
“Em especial ele gosta (de brasileiros), os times dele sempre têm um ou outro. Ele sempre gostou do futebol brasileiro. Já começou lá atrás quando ele jogou com o Falcão (na Roma), virou amigo do Falcão, então ali já criou uma simpatia pelo futebol brasileiro. É um cara que joga para fente, é um time que propõe sempre o jogo. Uma coisa que ele tem, que eu acho que muitos treinadores poderiam tirar como uma coisa boa, o Ancelotti é muito simples naquilo que faz, não inventa muita coisa, não tem falas difíceis, entende o que ele tem na mão e usa da melhor forma”, disse.
“Ele não inventa situação para jogador, tem uma relação muito boa com os jogadores, nunca que ser o protagonista, é um cara de uma simplicidade gigante. Isso faz com que os jogadores se aproximem muito dele e jogue, até por ele, no sentido de respeito mesmo. Além de ser competente, os treinos são bons, ele consegue colocar o jogador à vontade em campo. É um treinador muito simples no que faz e que dá certo. Ele valoriza o grupo inteiro, então facilita que os jogadores entendam a maneira dele de ser.”
Emerson ainda falou sobre as especulações envolvendo Jesus e Abel, de Al Hilal e Palmeiras, respectivamente. E colocou os dois portugueses como apostas.
“Eu acredito que (Abel Ferreira e Jorge Jesus) são apostas também. Eu sei que o Abel está fazendo um trabalho, e eu reconheço e admiro muito o trabalho que o Abel está fazendo no Palmeiras. Acho que o Jesus teve uma passada muito boa no nosso país, mas foi muito pouco no meu entendimento. Acho que a seleção brasileira vale mais do que uma passagem em um clube. Por isso que eu reconheço o Ancelotti como esse cara. Agora, claro, não tendo essa opção, você vai buscar outras”, disse.
“Eu sempre vejo que (o Jesus) é uma aposta, não tenho convicção de que o próprio Jesus, o Abel ou outro podem fazer um trabalho dentro da seleção brasileira. A gente torce para que façam, mas quando se fala de Ancelotti, eu vejo que ele está em outro nível, está em uma outra prateleira, aí estamos falando de um treinador que não precisa mostrar mais nada internacionalmente. Agora, quando se fala de Jorge Jesus, de Abel, a gente vê dois treinadores que fizeram sucesso no nosso país, o Jesus menos, mas são dois treinadores que, com certeza, eu reconheço o trabalho deles, mas seria uma aposta no sentido de ‘vamos colocar esses caras e ver o que eles podem mudar nesse momento’. O Ancelotti está mais consolidado no meu entendimento.”
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Abel ou Jesus na seleção? Emerson vê dupla como ‘aposta’ e diz: ‘Não tenho convicção de que podem fazer um bom trabalho’
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‘Perdemos respeito mundial’
Com participações nas Copas do Mundo de 1998 e 2006 e campeão da Copa América (1999) e da Copa das Confederações (2005) pela seleção, Emerson também falou sobre o atual momento da Amarelinha, que vem de um sonoro 4 a 1 para a Argentina nas eliminatórias.
“A gente viveu em uma época aonde tínhamos 15 jogadores da seleção que eram protagonistas nos seus clubes. Jogavam 11, mas tinham mais quatro, cinco, seis, que eram protagonistas. E hoje não vemos isso, vemos o Vinicius Jr. sendo protagonista no Real Madrid, mas a gente vê jogadores jogando em times médios, mesmo sendo times grandes considerados na Inglaterra, mas que não brigam por uma Champions, por um campeonato. Entre eles, eles se conhecem, você vai jogar com a França, você vê aqueles jogadores, o time da França é fortíssimo. Hoje, a Argentina é muito superior ao Brasil? Como time é, como jogadores, eu não acho. É um time sólido, eles se conhecem, estão bem entrosados, além disso conseguiram voltar um pouco aquela vontade argentina, aquela pegada. É isso que a gente olha o time da Argentina hoje”, começou por dizer.
“Mas se a gente pegar um jogador, individualmente, o Brasil está muito abaixo? Acho que não. Acho que, hoje, o Brasil não é um time, não joga como um time, tem defeitos como time. Agora, os jogadores podem melhorar isso? Podem. Não sei, não conheço essa geração, é uma geração que está muito distante, que a gente não conhece o perfil de cada um, só vê na televisão, não sabe qual é a conversa de bastidores, o que eles estão fazendo quando estão juntos. Para que de alguma forma eles consigam pegar esse peso do que é representar o Brasil, para ter uma mudança partindo deles também”, prosseguiu.
“Agora, eu acho que é o todo, o resultado não vem, o Brasil está com muitas dificuldades de fazer um jogo bonito, de jogar como time, as outras seleções evoluíram, hoje a Venezuela não é mais a Venezuela de 15 anos atrás, não é uma equipe que ‘tem que ganhar’. Os esforços são maiores, não que na nossa época não era, tivemos muitas dificuldades, até antes da Copa de 2002 nos classificamos contra a Venezuela no último jogo. Nós tínhamos dificuldades também, mas eu acho que a forma como o Brasil jogava, a forma como o país olhava a nossa seleção, mesmo perdendo em alguns momentos, eles confiavam em alguns jogadores. Essa é a demonstração que não estamos conseguindo ter, é essa coisa do brasileiro olhar e dizer ‘a gente perdeu, mas o Brasil tentou'”.
“Perdeu o jogo, faz parte, acho que está faltando essa confiança, perdemos isso, perdemos respeito mundial. É recuperar muita coisa nesse momento para chegar na Copa daqui a um ano. Como o Brasil vai chegar na Copa em 2026? Vamos sempre acreditar em um título, somos brasileiros, a gente acredita sempre. Copa do Mundo a gente sabe da força das nossas seleções, e o Brasil vai acabar encontrando em um certo momento uma seleção que esteja melhor preparada, estamos passando por isso há algum tempo”, finalizou.