A rescisão de contrato de Dudu com o Cruzeiro, poucos meses após o acerto com o clube mineiro, e a possível ida para o Atlético-MG, segue gerando repercussão no meio do futebol. Desta vez, quem se pronunciou foi o ex-jogador Diego Ribas, que usou suas redes sociais para fazer uma reflexão profunda sobre os desafios emocionais enfrentados por atletas veteranos quando deixam de ser protagonistas dentro de campo.
Sem entrar diretamente no mérito da saída de Dudu, Diego aproveitou o episódio para abordar o impacto pessoal que esse tipo de transição pode causar. “Não estou para julgar o caso do Dudu, mas para aproveitar essa situação e trazer um outro ponto de vista”, iniciou o ex-meia, com passagens por Flamengo, Santos e seleção brasileira.
Segundo Diego, a identidade do jogador de futebol muitas vezes é construída exclusivamente em torno do desempenho e do reconhecimento público, algo que Dudu tinha de sobra no Palmeiras, de onde saiu no fim do ano passado. “O jogador cresce num meio onde é reconhecido pelo que faz: gols, assistências, quando é titular. Com o tempo, por mais vitoriosa que seja a carreira, ele será preterido. E isso não afeta só o lado profissional, mas também o pessoal”, explicou.
O ex-camisa 10 usou a própria trajetória como exemplo. “Passei por isso nos últimos anos da minha carreira. Quando fui para o banco, precisei entender que isso não diminuía meu valor como pessoa. Era a chance de mostrar quem eu realmente era: continuar sendo íntegro, profissional, mesmo em um momento desconfortável.”
Para Diego, a reação diante da perda de protagonismo define mais o atleta do que o próprio desempenho técnico. “Você não precisa jogar mais 10 jogos para provar quem é. Você já é. Mostrar sua insatisfação faz parte, mas com respeito. Seguir treinando, sendo exemplo. Mudar de clube, de empresa… muitas vezes é apenas mudar de problema. É preciso enfrentar”, aconselhou.
Por fim, o ex-jogador deixou uma mensagem direta a Dudu e a todos os atletas em fases semelhantes da carreira. “Você tem valor, independente do resultado profissional que está entregando agora. Aproveite esse momento para crescer, se desenvolver e influenciar positivamente quem está ao seu redor.”
Confira a reflexão de Diego Ribas na íntegra:
“Deixa eu trazer aqui uma reflexão. Não estou para julgar o caso do Dudu, mas para aproveitar essa situação para trazer um outro ponto de vista. O jogador de futebol cresce e se desenvolve dentro de um meio onde ele é reconhecido pelo que ele faz. Seus gols, suas assistências, quando ele é titular e o centro das atenções. Isso naturalmente vai trazendo para ele que ele tem valor como pessoa desde que faça algo extraordinário, seja o centro das atenções. Com o passar do tempo, por mais vitoriosa que seja a sua carreira, em algum momento você vai ser preterido. E quando chega esse momento, é muito delicado porque não é apenas aquela decisão de ele não jogar, de ir para o banco dos reservas. Aquilo não afeta apenas o lado profissional dele, mas também o pessoal. O valor dele como pessoa. Porque se eu for para o banco de reservas, se eu não for o centro das atenções, se eu não estiver como titular, quem eu sou? Eu não tenho valo nenhum. E isso pode ser muito perigoso. Eu passei por isso nos últimos anos da minha carreira, uma carreira bem vitoriosa, bem resolvida financeiramente. Na própria entrevista do Dudu, ele fala que é difícil um jogador ser titular a vida inteira e agora ter que ficar no banco. Sim, é difícil! Mas ao mesmo tempo é inevitável. Quando nós escolhemos estar entre os melhores, no alto nível, em algum momento nós vamos ser preteridos. E quando entendemos que isso não tem a ver com aquilo que nós representamos, com o nosso valor, passamos a aproveitar essa oportunidade de uma forma diferente. E eu falo oportunidade não só para o atleta, mas para você também que é mais experiente e em algum momento está sendo preterido na sua vida. Quando eu passei por isso, eu entendi que era a oportunidade de eu mostrar quem eu realmente eu sou, de eu continuar sendo íntegro, de eu continuar sendo profissional e dessa forma viver essa situação desconfortável de uma forma positiva. Isso me deu muito mais credibilidade como verdadeiro líder. Eu entendi que eu não precisava jogar mais 5 ou 10 jogos para provar e mostrar quem eu era. Eu já era naquela altura. E eu não estou falando aqui de se acomodar, não. É treinar, querer ser titular, confrontar com respeito o treinador se for necessário. E demonstrar essa insatisfação, mas seguir sendo profissional, fazendo o nosso melhor. Não adianta mudar de clube, mudar de empresa. A maioria das vezes é mudar de problema. Nós temos que enfrentar. Eu vejo um conflito muito grande de muitos jogadores experientes, consagrados, quando são colocados no banco. E eu entendo! Porque cria-se uma mentalidade de que eu tenho que jogar, se não jogar perco o valor. E não é assim. Para o Dudu, para todos os atletas, todas as pessoas experientes, bem resolvidas e que estão no momento de dificuldade: você tem valor, independente do valor do resultado profissional que está dando nesse momento. Entenda isso! Leve de forma mais leva essa situação, aproveita essa momento para se desenvolver, para melhorar, para influenciar positivamente aqueles que estão ao seu redor.”