Vinicius Bergantin, ex-auxiliar do técnico Tite, fez um desabafo logo após a vitória de virada da Ferroviária por 2 a 1 em cima do Coritiba, em Araraquara, pela Série B do Campeonato Brasileiro, em partida realizada na última sexta-feira (2).
O profissional citou o problema de saúde mental vivido por Tite, algo que o impediu de aceitar o convite do Corinthians para suceder a Ramón Díaz, disse que conversou com Matheus Bachi, filho e auxiliar de Tite, para entender melhor o que aconteceu com o treinador e listou todos os trabalhos que um treinador tem no comando de uma equipe.
“É muito difícil. Eu conversei com o Matheus, filho dele (Tite). Disse que ele estava bem, tinha passado com o médico, já estava medicado, tinha conseguido ter uma noite boa de sono. É muito difícil você lidar com a pressão… aí vão falar: ‘poxa, em outras profissões, existe a pressão também’”, iniciou.
“A exposição e a cobrança pelo resultado imediato e.…inúmeras variáveis que caem na responsabilidade do treinador. Ele é responsável, sim, por grande parte do que acontece com o time. Mas ao meu modo de ver, eu tenho que vir para trabalhar, vir para Araraquara, para a Ferroviária, com uma ideia e jogo, ofensiva, defensiva, tentar dar uma cara para o time, que ela se traduza de corpo e alma para o torcedor”.
“E gerir os problemas que temos no dia a dia, de vestiário, de lesão, de um comportamento. Acho que é uma hiper cobrança para que o treinador resolva tudo. Acho que é desleal para todos nós. Sei que os números financeiros no futebol acabam sendo uma obrigação, que a gente tem que sustentar, tragar tudo, mas é complicado”, lamentou o treinador da Ferroviária.
Vinicius disse ainda que tem o desejo de chamar alguns torcedores da equipe para conviver com a comissão técnica e atletas no dia a dia para que eles tenham acesso a tudo que é feito, contou que “futebol é sério” e desabafou ao dizer que é necessário “muito cuidado” para tratar o profissional com mais humanidade.
“Você abdica de muita coisa e o que mais vejo hoje em dia, são treinadores que só com medicamento conseguem sustentar. Casamentos que acabam, ficam longe da família, sofrendo e até problema com alcoolismo. É muito pesado. Então, acho que vocês, jornalistas, torcedores, tenho vontade de… às vezes estou ali, na beira do campo… erros acontecem em todos os jogos”.
“Mas tenho vontade de chamar cinco, seis torcedores para passar uma semana com a gente e participar de tudo. Para que eles vejam o que é um trabalho. A gente não vem aqui bater bola, dar risada, brincar… é muito sério o que a gente faz. A gente estuda o adversário, vê a melhor formação para o nosso time, a gente administra os problemas, a gente tem que dar treinos bons, com conteúdo”.
“Parece que é muito fácil ser treinador. É muito complexo abrir para a imprensa, torcedor, diretor, para não julgar de maneira rasa e fria. Futebol é sério. Minha família está longe, eu venho para trabalhar, consigo lidar bem com isso. Mas, confesso, que às vezes passa momento em que você perde, fica ilhado e eu tenho certeza que na cabeça de todos os treinadores, que nos momentos difíceis quando caem tudo nas costas deles, eles se perguntam: ‘será que vale a pena?’. Toda vida pessoal é sugada pela vida profissional”.
“A gente tinha que ter uma outra imagem, de uma maneira mais clara da vida do treinador. Acho que alguns canais que passam a vida do Manchester City, do Arsenal… lembro que teve um do Vagner Mancini no Corinthians. Talvez isso para chegar no torcedor. Se ganhou hoje, eu sou o melhor treinador. E não é isso”.
Vinicius fez questão ainda de elogiar o técnico Mozart, do Coritiba, após a vitória contra o time paranaense.
“As ideias do Mozart, na minha opinião, são uma das melhores do Brasil e porque ele perdeu hoje… então a gente tem que ter muito cuidado e tratar isso com mais humanidade, calma, porque a gente ama muito o que a gente faz, mas não pode ser banalizado, ser olhado de uma maneira tão rasa assim”, finalizou.
Com a vitória, a Ferroviária chegou aos 9 pontos e saltou para o 10° lugar. Já o Coritiba, com dez pontos, está na 5ª colocação da Série B.