Como ‘patrocínio da discórdia’ incomoda torcedores de Arsenal e PSG

A partida entre PSG e Arsenal, às 16h (de Brasília) desta quarta-feira (7), pelo jogo de volta da semifinal da Champions League, terá um componente que vai além do futebol: um “patrocínio da discórdia” financiado pelo governo de Ruanda e que é estampado nas camisas dos dois adversários e incomoda torcedores de ambos os lados.

O “Visit Rwanda” é uma campanha para fomentar o turismo no país africano. Poderia ser algo que passasse batido, não fossem as graves acusações feitas ao governo local. Um grupo de torcedores do Arsenal chamado de Gunners for Peace se encarrega de fazer denúncias públicas e liderar um movimento que visa encerrar esse tipo de parceria do clube.

“Ruanda está financiando uma milícia brutal e violenta no leste do Congo, que vem realizando estupros em massa, assassinatos e recrutando crianças como soldados. Estamos pedindo à diretoria do Arsenal que encontre um patrocinador melhor, que se encaixe melhor nos valores do Arsenal”, disse Jamie Inmam, um dos organizadores, à ESPN.

“Sou do Congo e sou torcedor do Arsenal. Isso está nos afetando tanto e de tantas maneiras. A matança e a destruição estão tornando o país muito instável no leste do Congo. Perdemos muitos compatriotas lá. Muitas mulheres estão morrendo e a situação é muito ruim, muito ruim”, completou Tresor Kubadika, outro membro e organizador.

Na última semana, quando o PSG venceu o time inglês por 1 a 0 em Londres, no confronto de ida da semi, torcedores das duas equipes tiraram foto com um cartaz escrito “Drop Rwanda” – como “Largue Ruanda”. No entorno do Emirates Stadium, casa dos Gunners, foi colocado um outdoor ironizando o patrocínio. “Visite Tottenham”, dizia, citando um rival local para mostrar que qualquer coisa seria “melhor do que Ruanda”. A ideia é usar humor para chamar atenção a um assunto considerado sério.

A reportagem da ESPN também conversou com torcedores comuns que passavam pelo local. Muitos disseram não se importar com o patrocínio. “Tem dinheiro sujo no mundo todo”, justificou um deles. “Só estou aqui para ver os jogos e curtir o time jogar futebol”, afirmou outro.

Patrocínio pode ser estratégia

O fato de alguns torcedores não se interessarem pela origem do patrocinador pode ter ligação com um tipo de ação conhecida como “Sportswashing”. O termo em inglês é uma referência a uma “lavagem esportiva”. A Gunners for Peace acredita que o Arsenal está sendo usado pelo governo de Ruanda.

O professor de marketing esportivo Ivan Martinho explicou à reportagem como funciona a prática. “Isso sem dúvida nenhuma existe. Uma forma de você contar, talvez você ter algumas histórias que não sejam tão boas, buscando por meio do esporte limpar a barra, digamos assim, como se diz no português claro”, pontuou.

“A grande verdade é que na era da informação isso é cada vez mais difícil. Importante dizer que no caso da Visit Rwanda eu acredito que existe de fato um interesse genuíno pela atração das pessoas ao turismo. Óbvio que as notícias que chegam em relação ao que existe lá do ponto de vista de governo, direitos humanos, não são nada boas. E nessa hora esses assuntos se misturam”, analisou.

É nessa brecha que o Gunners for Peace tenta atuar. Há uma petição online contra o patrocínio, mas, até o momento, apenas 2.700 torcedores assinaram. Existe, no entanto, uma esperança dentro da campanha de que a denúncia gere um debate sobre valores morais dos clubes de futebol na hora de optarem por um patrocinador.

“Não é um patrocínio apropriado para nós”, disse um fã do Arsenal que viu a movimentação. “Estamos financiando um genocídio”, afirmou outro.

Embaixada de Ruanda nega uso político do patrocínio

Procurada pela ESPN para uma entrevista, o Embaixada de Ruanda em Londres enviou um e-mail em que exalta a campanha “Visit Rwanda”.

“O esporte desempenhou um papel importante na transformação econômica de Ruanda nos últimos 31 anos. A campanha de turismo “Visite Ruanda”, promovida por meio de nossas parcerias esportivas, permitiu que Ruanda gerasse quase 650 milhões em receitas de turismo no ano passado”, disse, em nota.

O Arsenal, até o momento, não se pronunciou sobre as denúncias do Gunners for Peace.

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