‘Raphinha’ do futsal largou futebol de campo e trocou Madri por Barcelona: ‘Mas não como o Figo’

Em uma realidade distante dos gramados, o Barcelona também tem o seu “Raphinha“. E que, assim como o brasileiro do futebol do Barça, brilhou em Portugal antes de se transferir para a Espanha.

Nascido em São Paulo e hoje com a experiência dos seus 32 anos, o pivô Rafael Nogueira da Silva, ou apenas Fits, é um dos destaques do Barcelona no futsal, modalidade onde o clube catalão também é muito forte – e conta com vários outros brasileiros no plantel.

Em meio à expectativa de Barcelona e Real Madrid no futebol para o El Clásico em LALIGA, no próximo domingo (11), com transmissão ao vivo no Disney+ a partir das 11h15 (de Brasília), o brasileiro contou a sua história ao ESPN.com.br. E trouxe um pouco da realidade de como é defender um clube da grandeza do Barça, só que em outro esporte.

Fits chegou ao Barcelona em 2024, mas até lá muita coisa se passou na carreira do jogador, incluindo o sonho de atuar no futebol de campo, o primeiro passo de muitos atletas que depois acabam migrando para o salão.

“Eu cheguei a jogar campo também, como muitos brasileiros, mas infelizmente não aproveitei a oportunidade. Muitos acabam não tendo a oportunidade, outros falam que foi empresário, só que no meu caso foi diferente. Eu mesmo não soube aproveitar, por não ser um profissional que treine mais, que se cuide, que quer mesmo. Eu tenho talento, graças a Deus, um dom que Deus me deu, mas só o talento não chega. Antigamente eu achava que chegava (risos)”, contou.

“Cheguei a jogar em alguns times no Brasil, não tão grandes e famosos. Passei pelo sub-20 do São Bernardo, na época que o São Bernardo conseguiu o acesso à primeira divisão do Paulista, tinha uma visibilidade boa, a galera da base estava chegando bem. Depois fui para o Vitória da Conquista-BA, ganhei até um torneio em cima do Vitória. Estava até meio que bem encaminhado, tinha um representante que até hoje é meu amigo, mas não soube aproveitar. As portas se fecharam”, prosseguiu.

Depois de ver o sonho no campo não ir para frente, Fits chegou a conciliar o futebol de várzea com o trabalho durante um período. E quando tudo parecia perdido, em 2015 recebeu o convite para jogar futsal, onde rapidamente se encontrou.

“Cheguei a trabalhar e passar um ano e meio, dois, trabalhando, e jogando extra em São Paulo. Recebi um convite de uns amigos para jogar futsal profissional no Yoka Futsal. Foi rápido mesmo, Deus quem preparou tudo porque eu recebi o convite na segunda-feira, e mais ou menos na quarta o treinador, o Alemão, que hoje está no Praia (Clube), me ligou. Na quinta-feira já passaram para me buscar, sexta já estava como profissional e já jogando, então foi muito rápido”.

No ano seguinte, o brasileiro se transferiu para o Keima Futsal e, em um piscar de olhos, já estava na Europa. Iniciou a carreira na Itália, onde defendeu o Cogianco Genzano e o Kaos Futsal. Fits ainda teve um período vitorioso no Benfica, em Portugal, período em que recebeu as suas primeiras convocações para defender o Brasil no salão.

A partir de 2021, o pivô brasileiro se estabeleceu na Espanha – com uma rápida passagem pelo Anderlecht, na Bélgica –. E depois de passagens por Manzanares e Inter Movistar, chegou o convite do Barcelona.

“Sinceramente, não tem como falar não, essa é a verdade (risos). Já era um sonho desde criança, quando eu jogava futebol e via o Ronaldinho Gaúcho fazendo o que fazia aqui. Quando eu jogava futebol eu pensava ‘poxa, eu poderia um dia estar lá, vestir a camisa da seleção brasileira, um dia jogar a Champions League’… e Deus me permitiu de passar por tudo isso, mas no futsal. Então todo o sonho que eu tinha no futebol, acabou acontecendo no futsal”.

‘Tem muita estrutura’

Se no futebol de campo o Barça é penta da Champions League, no salão o clube não fica muito atrás e tem quatro conquistas, a última na temporada 2021/22. Na liga nacional, a equipe foi recentemente tricampeã, entre as temporadas 2020/21, 2021/22 e 2022/23.

No futsal a estrutura para os atletas também é de alto padrão, já que os treinos são realizados na Cidade Esportiva Joan Gamper, onde o profissional faz as suas atividades diárias.

“No campo a gente sabe como é (a estrutura do Barcelona), é muito lá em cima. Só que nas modalidades (do Barcelona) que eu vi, (o futsal) é muito forte também. Tem muita estrutura”, disse.

“Nós treinamos no mesmo lugar que eles (profissional). É um complexo muito grande, quando você chega na portaria, já na frente, é o pavilhão das modalidades como futsal, handebol, a base do basquete, e mais lá para cima já vem a parte médica, clínicas, restaurante, o estacionamento deles (profissional) e deve ter uns seis, sete campos lá. O centro de treinamento é muito bom, tem tudo o que nós precisamos”.

E o fato de treinar no mesmo local que o time do Barça principal também fez Fits esbarrar com o próprio Raphinha e tirar uma foto com a estrela blaugrana. Antes, os dois já haviam se esbarrado em uma comemoração do clube, onde todas as modalidades estiveram presentes.

Fits não escondeu ser fã do camisa 11 do Barcelona e brincou sobre ter o sonho de um dia poder contar com a presença do compatriota no Palau Blaugrana, onde o futsal do clube manda os seus jogos.

“Foi no aniversário de 125 anos e eles fizeram em um teatro. Foram todas as modalidades, futebol, os jogadores, Piqué, os treinadores, Xavi e tudo. Foi na hora que subimos na área vip para entrarmos, estava o futsal, o basquete, todas as modalidades, o futebol acabou subindo, aí ele (Raphinha) passou, cumprimentou mais dois amigos, eu estava ali, ele me cumprimentou, acabamos conversando um pouco. A galera que já está há muitos anos no Barcelona já conhecia uns aos outros, mas foi bem rápido, coisa de um minuto, um minuto e meio. Foi bom, se eu tivesse um pouquinho mais de oportunidade eu falaria ‘vai lá nos assistir, dar uma moralzinha, futsal é da hora, você gosta que eu sei’ (risos)”, brincou.

“Do tempo que estou aqui, eu nunca vi (jogadores do Barcelona nos jogos de futsal). Isso ajudaria muito o futsal, seria uma honra vê-los, como a gente também tem a vontade de ir em muitos jogos assisti-los. Seria um prazer e uma honra vê-los nos acompanhando, querendo ou não, o Raphinha, brasileiro, uma pessoa que eu sigo e está deitando. Seria um prazer vê-los incentivando, postando algo, isso ajudaria até o futsal a ser mais reconhecido. Coisas que o Neymar faz, igual está aí na Kings League, apoiando uma nova modalidade e sempre falou do futsal. O Rodrygo (do Real Madrid) sempre falou que começou no futsal, então ter esses jogadores perto e assistindo, creio que eles também gostam, seria muito bom”, prosseguiu.

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Brasileiro do Barcelona no futsal conta bastidores de ‘resenha’ com Raphinha e faz pedido ao astro: ‘Vai lá dar uma moralzinha’

Fits, pivô do Barcelona, concedeu entrevista exclusiva à ESPN

O destaque do futsal do Barcelona também ainda torce para que Raphinha possa conquistar a Bola de Ouro em meio à sua temporada brilhante com os catalães.

“Seria muito bom, seria top (Raphinha ganhador da Bola de Ouro). Está sendo uma temporada sensacional, não só dele, do Barcelona em si. E o Raphinha, no final da temporada passada, teve o assunto de que viria outro jogador, e a galera ‘macetando’. Ele simplesmente calou a boca, foi lá e fez o trabalho dele, fez o que sabe fazer e a resposta está aí. É um cara que ao invés de sair na rede social falando besteira, simplesmente foi fazer o trabalho dele, e o fruto ele está colhendo”, disse.

“O Lamine, que também está fazendo uma temporada top, o Pedri, que está destruindo, está em um nível muito alto. Seria muito bom ver um brasileiro de novo ganhando a Bola de Ouro, a gente pensava que seria do Vinicius Jr., mas não aconteceu, mas no The Best ele merecia e ganhou. Na próxima estamos na esperança que seja o Raphinha, o nome dele está bem cogitado, tem o Salah ali, mas o nome do Raphinha está lá em cima, e os números já condizem com o nome, fica muito mais fácil”.

‘No futsal é diferente’

Se nos gramados a rivalidade entre Barcelona e Real Madrid é a maior do planeta, no futsal a realidade é distinta. E possibilita até mesmo que um jogador troque um rival pelo outro sem muito alarde, diferentemente do que aconteceu com Luís Figo nos anos 2000.

Aliás, o próprio Fits vivenciou isso na pele, depois de se transferir do Inter Movistar, time de Madri, para o Barcelona. E que segundo ele foi uma mudança bem tranquila, inclusive, com os torcedores dos clubes.

“No futsal é diferente. Até o pessoal entende um pouco mais que é um trabalho, uma profissão. Ao sair do Inter, quando tive a oportunidade do Barcelona, já se comentava entre alguns jogadores, alguns até vieram falar comigo… e quando tive a oportunidade de ir para o Barcelona, para mim foi muito bom e foi bem tranquilo. Sempre me dei bem com os torcedores do Inter, me mandavam mensagem para não ir, que era para eu ficar, e não ‘você vai para lá e não vai ganhar nada, você é Judas’. Era sempre ‘não vai, fica aqui'”, disse.

“Não tive esse problema do Luís Figo, que foi bem complicado (risos), mas a gente entende a proporção, o que esperavam dele e a atitude dele, cada um tem seus motivos. No futsal foi bem tranquilo. Até quando eu cheguei aqui, por ser o rival do Inter, jogar e tirá-los da final da Copa da Espanha, que ganhamos deles na semifinal, me trataram sempre bem ‘agora você chegou, está do nosso lado. Tem que fazer acontecer desse lado, vamos aí, vamos juntos’. Sempre teve um bom respeito”.

Fits ainda contou como é a rivalidade entre Inter e Barça, em meio ao fato de o clube de Madri não ter qualquer tipo de ligação com o Real. E explicou o motivo de os merengues não apostarem na modalidade como o arquirrival.

O Inter Movistar, localizado em Torrejón de Ardoz, cidade que pertence a Madri, por sua vez, é o maior campeão da liga espanhola no futsal com 14 títulos e também do continente, com cinco Ligas dos Campeões.

“Os jogos contra o Inter Movistar são intensos, os dois lados têm qualidade, são muitos jogadores que já jogaram contra ou juntos, também na seleção. Tem aqueles atritos de um ficar falando do outro, então acaba tendo uma atmosfera maior do que em outros jogos. O que eu gostei e, sinceramente, é um ponto muito positivo, é questão de torcida. Quando jogamos aqui temos os Dracs, que fazem festa e apoiam os 40 minutos, e se precisar na prorrogação estão pulando e batucando. Nunca vi saírem lá fora no estacionamento e pegarem um jogador. A mesma coisa quando eu jogava no Inter, do outro lado”, contou.

“(Nunca vi) os torcedores do Inter, quando os jogadores do Barcelona passavam para ir para o ônibus, quererem pegá-los ou algo de agressão, como já passou em outros lugares. Quando eu cheguei foi uma coisa que eu falei ‘isso que faz a diferença’, isso que dá um ponto positivo para o futsal ser assistido por muitas pessoas. Infelizmente não é olímpico, mas se pegar tem crianças assistindo, mulheres, eu já cheguei a ter amigas da minha família que foram, na época do Inter, gestantes, ‘vou lá assistir’, era um jogo muito pesado e foram assistir, tinham a tranquilidade de que nada iria acontecer”.

“Quando eu estava no Inter Movistar, cheguei até a perguntar para alguns que já estavam lá há muitos anos (por que o Real Madrid não tem futsal), e foi a mesma resposta. Que para eles no momento não interessava, quando fosse alguma coisa mais séria, eles colocariam, teria essa modalidade. O Real Madrid é muito forte no basquete e é uma coisa que eu não entendia, poderiam colocar mais uma modalidade, tem o futebol feminino, põe o futsal, apesar de já ter o Inter do lado, fazer alguma fusão. Já era uma coisa mais acima deles, eu acabei não entendendo por que o Real Madrid não tem”.

Agora no lado do Barcelona, Fits também elogiou a cultura do clube de sempre manter outras modalidades além do futebol, como o futsal, basquete, handebol e agora até mesmo e-sports.

“Aqui em Barcelona tem todas as modalidades, o incentivo ao esporte. É uma diferença muito grande. Aqui em Barcelona o que faz a diferença é você se sentir profissional, se sentir importante. Você vê um basquete, um hóquei, handebol, futebol feminino, a base em La Masia, você se sente importante, vê as pessoas no portão esperando para tirar fotos com o pessoal do futebol, você vê aquele convívio de profissional. E importância que eles dão, tudo o que você precisa eles dão, sempre proporcionam algumas coisas, tentam fazer as coisas mais fácil para você conseguir retribuir na quadra, no campo. Essa é a diferença do Barcelona, a cidade também abraça isso”, disse.

“Você vai em um jogo do Barcelona futsal ou do basquete, é lotado. A cidade em si já é do Barcelona, então essa é a diferença. A cidade já é Barcelona, vive isso, tem todas as modalidades dentro do seu clube de infância, essa é a diferença, ter um ‘Mais que o clube’, isso significa muito”.

Onde assistir ao El Clásico?

O El Clásico entre Barcelona e Real Madrid, pela 35ª rodada de LALIGA, tem transmissão ao vivo no Disney+, no domingo (11), às 11h15 (de Brasília).

Próximos jogos do Barcelona:

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