“Meu sistema favorito é o 4-4-2. Defendemos melhor”. Carlo Ancelotti disse isso em 20 de abril deste ano, na coletiva de imprensa depois da vitória por 1 a 0 contra o Athletic Club, por LALIGA.
Aos 65 anos, com uma das carreiras mais vitoriosas na história do futebol, o treinador italiano assumirá a seleção brasileira a partir de 26 de maio. Pela primeira vez comandará uma seleção, realidade totalmente distinta da vivida em 30 anos de carreira à frente de clubes.
Seu perfil foi brilhantemente descrito por André Kfouri. O que esperar, então, olhando para o campo, de Carlo Ancelotti na seleção brasileira?
Ao longo de sua trajetória, Carletto se mostrou um técnico totalmente adaptável aos elencos que possuía. Jamais foi um treinador de um único esquema. A famosa “Árvore de Natal” do Milan campeão da Champions League em 2006-07 é uma de suas formações táticas mais conhecidas.
Na prática, um 4-3-2-1 clássico e histórico com Dida, Massimo Oddo, Alessandro Nesta, Paolo Maldini e Marek Jankulovski; Gennaro Gattuso, Andrea Pirlo e Massimo Ambrosini, Kaká e Clarence Seedorf; Filippo Inzaghi.
O Bayern de 2016-17, herança de Pep Guardiola, tinha Arjen Robben e Franck Ribéry nas pontas, com Robert Lewandowski como centroavante; três meio-campistas – Xabi Alonso, Arturo Vidal e Thiago Alcântara – e uma linha de quatro defensores com laterais ofensivos.
Já a Champions de 2021-22, conquistada com o Real Madrid, foi no marcante 4-3-3 madridista ainda com Casemiro, Toni Kroos e Luka Modric no meio-campo, mas já com Federico Valverde sendo o “ponta” pela direita que ajudava na faixa central do campo e, na prática, já impunha variação tática pela função que exercia.
O atual Real Madrid variou do 4-2-3-1 ao 4-4-2 atual, muito por conta de Jude Bellingham. O inglês era o meia avançado e depois se tornou o meia partindo da esquerda para dentro. Ancelotti jamais o viu como um meio-campista recuado ou central, como nos tempos de Borussia Dortmund. Por isso pensou na melhor forma de aproveitar as chegadas no ataque do inglês. O começo foi absolutamente espetacular.
Com a chegada de Kylian Mbappé e a evolução de Vinicius Júnior, o 4-4-2 se tornou um esquema perfeitamente adaptável ao elenco madridista atual, justamente para ter os dois como dupla de ataque. O italiano sempre defendeu maior versatilidade do brasileiro no ataque ao invés de limitá-lo pelo lado esquerdo. Inquestionavelmente, Ancelotti é um dos responsáveis diretos pelo nível de melhor do mundo apresentado por Vini na temporada passada.
O maior problema recente foi a perda do equilíbrio no meio-campo com a saída de Kroos e a consequente fragilidade defensiva, agravada com as incontáveis lesões no setor. Se em 2023-24 o treinador encontrou diversas soluções dentro do elenco, na temporada atual isso não aconteceu.
Para Ancelotti triunfar com a seleção brasileira ele precisará fazer algo com o qual está muito bem acostumado: o simples muito bem feito. A potencialização do talento individual brasileiro passa pela força coletiva. Começando pela organização defensiva, muito provavelmente no 4-4-2, e a convocação de jogadores que conhecem sua forma de trabalho.
Como já foi apontado por Gian Oddi no Linha de Passe, o retorno de Casemiro, que voltou a jogar bem pelo Manchester United, é algo muito provável. Vini e Rodrygo serão importantes, assim como Éder Militão quando estiver disponível.
Ancelotti, nesta passagem atual pelo Real Madrid, sempre foi muito questionado pela falta de oportunidades a jovens. Vale recuperar outra frase marcante sua, dita em 23 de novembro do ano passado, também em coletiva de imprensa: “Tenho a responsabilidade de escalar o melhor time possível. Dar minutos não é o objetivo deste clube”.
A realidade na seleção brasileira será a mesma. Escalar o melhor time possível e vencer. Carlo Ancelotti foi contratado para ser campeão do mundo, e seu perfil recente de trabalho indica maior confiança em jogadores experientes.
Assim, jovens talentosos certamente serão convocados se Ancelotti entender que são os melhores em suas posições entre todos os brasileiros possíveis. De certa maneira, o mesmo raciocínio deve ser usado com Neymar. Se estiver bem e jogando, fará parte da seleção inevitavelmente.
Com ele, Carlo Ancelotti pode pensar em variações táticas para encaixá-lo da melhor forma possível. No 4-4-2, no 4-2-3-1… O que certamente não vai acontecer com o italiano à frente do time é o mundo girar ao redor de um único jogador.