A Fifa notificou oficialmente a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e cobrou explicações sobre o pagamento de uma comissão a Diego Fernandes, intermediário envolvido na negociação com o técnico Carlo Ancelotti. O ponto central do questionamento é que o empresário não possui registro como agente licenciado pela entidade máxima do futebol. A informação foi dada em primeira mão pelo UOL e confirmada pela ESPN.
Segundo apuração, Diego atuou diretamente na negociação conduzida durante a gestão de Ednaldo Rodrigues. Ele esteve em Madri, representando a CBF nos contatos com o então técnico do Real Madrid e participou ativamente da construção do acordo que colocaria Ancelotti à frente da seleção brasileira.
O nome de Fernandes consta no contrato assinado entre CBF e Ancelotti, conforme revelado em documentação analisada pela reportagem. Por esse trabalho, ele teria direito a uma comissão de 1,2 milhão de euros (aproximadamente R$ 7,7 milhões). A Fifa, no entanto, vê com preocupação o envolvimento de alguém sem credenciamento oficial e já solicitou explicações formais.
A CBF foi notificada pela entidade e terá até o dia 4 de junho — véspera da estreia de Ancelotti, em duelo com o Equador, para apresentar informações detalhadas sobre a negociação. Entre os documentos exigidos estão: contrato firmado com Diego Fernandes, mensagens trocadas durante o processo de intermediação e justificativas formais sobre a legalidade do pagamento.
De acordo com o Artigo 11 da Regulação de Agentes da Fifa, apenas profissionais licenciados podem atuar em transferências e contratações de jogadores ou treinadores.
A legislação é clara ao restringir a atuação de agentes sem credencial: “Quaisquer empregados ou contratados por uma agência que não sejam agentes licenciados não podem prestar serviços de agente de futebol nem abordar potenciais clientes para firmar contrato de representação.”
O Artigo 15 da mesma regulamentação trata especificamente dos pagamentos por serviços de intermediação, que também são restritos a agentes oficialmente registrados.
Segundo apurou a ESPN, Fernandes tem trânsito nos bastidores da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) desde 2022, quando iniciou relacionamento com o então presidente Ednaldo Rodrigues.
Em 2025, quando Ednaldo optou por retomar as negociações iniciadas com Ancelotti em 2023, o dirigente precisava de um representante na Europa e selecionou o empresário para intermediar as conversas.
Ao longo dos meses, Fernandes foi decisivo para a CBF fechar a contratação de Carletto, o que rendeu ao agente uma comissão de 1,2 milhão de euros (R$ 7,683 milhões) em contrato.
A ESPN ainda apurou que não é por acaso também que o agente vem aparecendo seguidamente em várias fotos ao lado do novo comandante da seleção.
De acordo com fontes, Diego Fernandes contratou agências de comunicação na Europa e no Brasil para explorar sua imagem a partir da negociação com Carlo Ancelotti.
As empresas trabalharam na divulgação de fotos nos momentos de anúncio, embarque para o Brasil e desembarque no Rio de Janeiro, com tudo combinado no contrato de intermediação.
O empresário, aliás, fez constar nos documentos que a CBF sempre o citaria como intermediário e representante oficial nas conversas, e também que ele teria autorização para explorar o caso e tornar pública cada imagem ao lado de Ancelotti nos momentos chaves da negociação.
Uma curiosidade é que a Confederação, em sua nota oficial do anúncio de Ancelotti como novo treinador da seleção, não colocou o nome de Fernandes. Horas depois, a matéria foi atualizada, desta vez com uma mensagem de agradecimento ao agente.
Outro fato curioso é que o próprio Diego bancou o aluguel do avião que transportou Carletto ao Brasil, ao custo de mais de R$ 1 milhão. Por contrato, a CBF reembolsará o montante.
A ESPN apurou que o excesso de exposição do empresário causou desconforto na atual gestão da CBF, agora presidida por Samir Xaud.
A alta cúpula da Confederação, porém, entende que não há o que fazer, já que tudo está amarrado no contrato redigido ainda quando Ednaldo Rodrigues estava no comando.