A CBF esperou o máximo que pôde para ter Carlo Ancelotti na seleção brasileira. Mas, se o badalado técnico é presença mais do que certa na Copa do Mundo de 2026 (assim que a vaga for carimbada), o mesmo não se pode dizer dos jogadores presentes na convocação do italiano.
Levantamento da ESPN mostra que, neste século, quase metade dos nomes chamados pela primeira vez por técnicos que chegam à Copa com o Brasil sequer disputa o torneio. Ao todo, de 2001 para cá, 65 dos 133 convocados acabaram sem espaço na lista final.
Para fazer o paralelo com a situação de Ancelotti, que assume a seleção um ano antes da Copa, foram levadas em conta as primeiras convocações dos técnicos que de fato dirigiram o Brasil no torneio, não necessariamente quem começou o ciclo completo.
O exemplo mais clássico talvez seja o que antecedeu o penta em 2002. Após as demissões de Vanderlei Luxemburgo e Emerson Leão, além da passagem interina de Candinho, o cargo acabou nas mãos de Luiz Felipe Scolari. Ele estreou um ano antes da Copa, com a vaga ameaçada, e convocou 22 jogadores, dos quais 13 (59%) não foram ao Mundial do Japão e da Coreia do Sul. Entre eles, Romário, de longe a ausência mais polêmica.
O percentual diminuiu bastante no ciclo seguinte. Carlos Alberto Parreira assumiu o Brasil em janeiro de 2003: dos 22 convocados por ele para a estreia, um empate sem gols com a China, nove não chegaram à Copa, o equivalente a 41%. Na sequência, com Dunga, 12 dos 22 chamados para a primeira partida do ex-volante como técnico ficaram ausentes na Copa de 2010 – ou 55% do total.
O número seguiu variando nos ciclos seguintes. Para 2014, nove dos 20 convocados pela primeira vez por Felipão não foram chamados para a Copa disputada no Brasil. O menor percentual foi o de Tite, que deixou fora do Mundial de 2018 apenas nove dos 23 convocados em sua primeira lista. O próprio Tite, no entanto, mudaria o estilo para o ciclo seguinte, ao deixar 14 dos 24 chamados (58%) fora da Copa de 2022.
É quase garantido que Carlo Ancelotti passará por esse fenômeno também. O italiano convocou 25 jogadores, mas foi forçado a deixar alguns que certamente voltarão assim que reunirem condições, casos do zagueiro Éder Militão e dos atacantes Endrick e Rodrygo, seus comandados no Real Madrid, e também de Neymar, ainda o grande astro do país.
Veja os convocados e quem ficou fora das Copas desde 2002:
2002 – Felipão assume em 2001 e convoca:
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Goleiros: Marcos (Palmeiras) e Dida (Milan);
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Laterais: Cafu (Roma), Beletti (São Paulo), Roberto Carlos (Real Madrid) e Serginho (Milan);
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Zagueiros: Lúcio (Bayer Leverkusen), Antônio Carlos (Roma), Roque Júnior (Milan) e Cris (Cruzeiro);
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Volantes: Mauro Silva (La Coruña), Emerson (Roma) e Fábio Rochemback (Internacional);
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Meias: Rivaldo (Barcelona), Alex (Palmeiras) e Juninho (Vasco);
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Atacantes: Euller (Vasco), Ewerthon (Corinthians), Geovanni (Cruzeiro), Romário (Vasco), Jardel (Galatasaray) e Élber (Bayern).
Dos 22, 13 não foram para a Copa de 2002 (59%): Serginho, Antônio Carlos, Cris, Mauro Silva, Emerson, Fábio Rochemback, Alex, Euller, Ewerthon, Geovanni, Romário, Jardel e Élber.
2006 – Parreira assume em 2003 e convoca:
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Goleiros: Dida (Milan) e Julio Cesar (Flamengo);
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Laterais: Cafu (Roma), Belletti (Villarreal), Roberto Carlos (Real Madrid) e Júnior (Parma);
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Zagueiros: Edmilson (Lyon), Juan (Bayer Leverkusen), Roque Júnior (Milan) e Luisão (Cruzeiro);
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Volantes: Emerson (Roma), Flavio Conceição (Real Madrid), Gilberto Silva (Arsenal) e Kleberson (Atlético-PR);
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Meias: Juninho Pernambucano (Lyon), Zé Roberto (Bayern de Munique), Rivaldo (Milan) e Ronaldinho Gaúcho (PSG);
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Atacantes: Ronaldo (Real Madrid), Amoroso (Borussia Dortmund), Adriano (Parma) e Denílson (Betis).
Dos 22, 9 não foram para a Copa de 2006 (41%): Belletti, Júnior, Edmilson, Roque Júnior, Flávio Conceição, Kleberson, Rivaldo, Amoroso e Denilson.
2010 – Dunga assume em 2006 e convoca:
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Goleiros: Gomes (PSV) e Fábio (Cruzeiro);
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Laterais: Cicinho (Real Madrid), Maicon (Internazionale), Gilberto (Hertha Berlim) e Marcelo (Fluminense);
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Zagueiros: Juan (Bayer Leverkusen), Lúcio (Bayern de Munique), Luisão (Benfica) e Alex (PSV);
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Volantes: Gilberto Silva (Arsenal), Edmílson (Barcelona), Dudu Cearense (CSKA) e Jônatas (Flamengo);
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Meias: Elano (Shakahtar Donetsk), Julio Baptista (Real Madrid), Morais (Vasco) e Wagner (Cruzeiro);
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Atacantes: Daniel Carvalho (CSKA), Robinho (Real Madrid), Fred (Lyon) e Vagner Love (CSKA).
Dos 22, 12 não foram à Copa de 2010 (55%): Fábio, Cicinho, Marcelo, Alex, Edmilson, Dudu Cearense, Jonatas, Morais, Wagner, Daniel Carvalho, Fred e Vagner Love.
2014 – Felipão assume em 2013 e convoca:
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Goleiros: Júlio César (Queen’s Park Rangers) e Diego Alves (Valencia);
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Laterais: Daniel Alves (Barcelona), Adriano (Barcelona) e Filipe Luis (Atlético de Madrid);
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Zagueiros: David Luiz (Chelsea), Leandro Castán (Roma), Dante (Bayern de Munique) e Miranda (Atlético de Madrid);
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Volantes: Arouca (Santos), Hernanes (Lazio), Paulinho (Corinthians) e Ramires (Chelsea);
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Meias: Oscar (Chelsea), Lucas (PSG) e Ronaldinho Gaúcho (Atlético-MG);
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Atacantes: Fred (Fluminense), Hulk (Zenit), Luis Fabiano (São Paulo) e Neymar (Santos).
Dos 20, 9 não foram à Copa de 2014 (45%): Diego Alves, Adriano, Filipe Luis, Leandro Castán, Miranda, Arouca, Lucas, Ronaldinho Gaúcho e Luis Fabiano.
2018 – Tite assume em 2016 e convoca:
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Goleiros: Alisson (Roma), Marcelo Grohe (Grêmio) e Weverton (Athletico-PR);
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Laterais: Daniel Alves (Juventus), Fagner (Corinthians), Filipe Luis (Atlético de Madrid) e Marcelo (Real Madrid);
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Zagueiros: Gil (Shandong Luneng), Marquinhos (PSG), Miranda (Inter de Milão) e Rodrigo Caio (São Paulo);
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Volantes: Casemiro (Real Madrid), Paulinho (Guangzhou), Rafael Carioca (Atlético-MG) e Renato Augusto (Beijing);
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Meias: Giuliano (Zenit), Lucas Lima (Santos), Philippe Coutinho (Liverpool) e Willian (Chelsea);
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Atacantes: Gabigol (Santos), Gabriel Jesus (Palmeiras), Neymar (Barcelona) e Taison (Shakhtar).
Dos 23, 9 não foram à Copa de 2018 (39%): Marcelo Grohe, Weverton, Daniel Alves, Gil, Rodrigo Caio, Rafael Carioca, Giuliano, Lucas Lima, Gabigol.
2022 – Tite segue em 2018 e convoca:
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Goleiros: Alisson (Liverpool), Hugo (Flamengo) e Neto (Valencia);
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Laterais: Fabinho (Liverpool), Fagner (Corinthians), Alex Sandro (Juventus) e Filipe Luís (Atlético de Madrid);
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Defensores: Dedé (Cruzeiro), Felipe (Porto), Marquinhos (PSG) e Thiago Silva (PSG);
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Volantes: Andreas Pereira (Manchester United), Arthur (Barcelona), Casemiro (Real Madrid) e Fred (Manchester United);
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Meias: Lucas Paquetá (Flamengo), Philippe Coutinho (Barcelona) e Renato Augusto (Beijing Guoan);
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Atacantes: Douglas Costa (Juventus), Everton (Grêmio), Roberto Firmino (Liverpool), Neymar (PSG), Pedro (Fluminense) e Willian (Chelsea).
Dos 24, 14 não foram à Copa de 2022 (58%): Hugo, Neto, Fagner, Filipe Luís, Dedé, Felipe, Andreas Pereira, Arthur, Renato Augusto, Philippe Coutinho, Douglas Costa, Everton, Firmino e Willian.