Neste sábado (5), PSG e Bayern de Munique se enfrentam às 13h (de Brasília), no Mercedes-Benz Stadium, em Atlanta, pelas quartas do Mundial de Clubes. A partida, que é uma das mais aguardadas do torneio, terá transmissão ao vivo pela CazéTV, disponível sem custo adicional no Disney+.
Para o clube francês, será uma das partidas mais importantes de sua história, já que o time ainda tentar chegar à “primeira prateleira” da Europa em termos de grandes troféus internacionais – até o momento, a equipe soma “apenas” uma Uefa Champions League em seu currículo, justamente nesta temporada.
A realidade que o Paris conhece hoje, porém, é muito diferente do que a agremiação viveu entre o final dos anos 1990 até quase a década de 2010, um período que ficou conhecido como a “era das vacas magras” no Parque dos Príncipes, com ameaças de rebaixamento, protestos de torcedores e elencos cheios de “medalhões” mimados.
Um brasileiro testemunhou de perto a transformação “da água para o vinho” na capital francesa: o ex-lateral-direito Ceará, campeão mundial com o Internacional em 2006 e que defendeu o PSG por quase cinco temporadas, entre 2007 e 2012.
Em entrevista à ESPN, a lenda do Colorado recordou a época de crise do Paris.
“Na minha época, o PSG era um clube modesto, posso dizer assim… Mesmo tendo ali grandes nomes nos anos 90 e no começo dos 2000, como Raí e Ronaldinho Gaúcho, era bem diferente de hoje. No meu tempo, houve uma troca de proprietário, então os proprietários que estavam na época que eu cheguei não estavam fazendo grandes investimentos, estavam apostando bastante na formação de atletas, de novos jogadores”, relatou.
“As instalações do clube ainda eram bem modestas. Nós treinávamos num centro de treinamento antigo ainda, que era em parceria com a prefeitura de Saint-Germain-en-Laye, e eles estavam finalizando um novo centro de treinamento na época. Eu peguei esse período de transição”, seguiu.
“Mas a verdade é que as pretensões do clube na época não eram muito grandes, eram mais a longo prazo. E eu fiz parte desse período que eu posso até dizer, entre aspas, um período de ‘vacas magras’ do PSG”, complementou.
Ceará também lembrou especialmente a temporada 2007/08, em que a equipe escapou raspando da degola, e contou histórias dos fortes protestos feitos pelos ultras, os organizados do clube.
“(A temporada 2007/08) Foi um período que eu até estranhei, porque, como eu não conhecia muito o futebol francês, às vezes só de acompanhar pela televisão, não sabia que os torcedores eram tão apaixonados como aqui no Brasil. Eu pensei que era algo específico do nosso futebol, essa pressão de torcida, a cobrança”, ressaltou.
“Nesse período que nós estávamos lutando contra o rebaixamento, tivemos grandes pressões. Teve torcida indo até o centro de treinamento, até o estádio, o Parque dos Príncipes, em dia de treino, fazendo manifestações, até mesmo reuniões dos jogadores com líder de torcida…”, contou.
“O nosso capitão, na época, fez reuniões também para se explicar e conversar, entender aquilo que a torcida estava esperando. Enfim, então, a pressão era muito grande, mas a gente conseguiu ali até a última rodada (do Campeonato Francês) manter o time com as esperanças acesas ainda. No último jogo, a gente conseguiu livrar o time do rebaixamento”, suspirou, lembrando a “fuga” da queda do PSG, que ficou apenas três pontos acima da zona da degola naquele ano.
“Posteriormente, o clube deu uma estabilizada. No ano seguinte, chegaram caras como o Makélélé, o Giuly, o Kezman, alguns nomes pesados. Eles nos ajudaram bastante a ter uma temporada melhor a partir de 2008/09”, acrescentou o ex-lateral, lembrando o término em 6º lugar no ano seguinte.
“Quando chegou o Qatar…”
As “vacas magras” do PSG ficaram bem rechonchudas a partir de 2011, quando o clube foi comprado pela QSI (Qatar Sports Investiments), um dos braços do QIA (Fundo Soberano de Investimentos do Qatar, na sigla em inglês), virando uma das agremiações mais ricas do mundo da noite para o dia.
A chegada dos sheiks do Oriente Médio aconteceu em junho de 2011, durante as férias antes do início da temporada 2011/12. À época, Ceará estava no Brasil e ficou surpreso com as transformações estruturais ocorridas no Paris logo após os qataris assumirem o poder.
“Tudo isso aconteceu durante as minhas férias. Eu estava até no Brasil na época em que houve a negociação (entre PSG e QSI). A gente não teve nenhum poder nesse aspecto, tivemos só que aceitar todo tipo de mudança administrativa dentro do clube”, lembrou.
“Mas dava para ver que era uma mudança para melhor. Então, eu fiquei feliz, porque o atleta que tem grandes ambições sempre fica feliz com as mudanças de melhorias dentro de um clube”, argmentou.
“Quando o Qatar chegou, já anunciaram de cara o Leonardo como diretor. A minha visão foi de melhoria, de crescimento de um clube que passaria a lutar por grandes conquistas, por grandes títulos. E que lutaria para estar sempre entre os primeiros do Campeonato Francês, algo que que fazia tempo que o PSG não era”, observou.
Ceará acabou ficando pouco tempo na “era Qatar” do PSG, já que, no meio de 2012, regressou ao Brasil para defender o Cruzeiro.
No entanto, nos meses em que viu as mudanças acontecendo de perto em Paris, o ex-atleta ressaltou que a alteração mais notável foi nos bastidores, com cobrança pelo profissionalismo.
“A primeira coisa muito clara que o Leonardo trouxe como o diretor de futebol foi a mudança de mentalidade. Isso foi muito legal, a maneira que ele trouxe isso para o futebol francês, a começar pelo PSG”, pontuou.
“Ele me falava que a parte administrativa precisava mudar muito a mentalidade. Às vezes, deixavam sempre para fazer as coisas no dia seguinte, o funcionário muitas vezes cumpria somente o mínimo que deveria nos horários, e ele falava que, no futebol, você tem que, se precisar, virar a noite para poder fazer uma inscrição de um atleta, para fechar uma contratação, para fazer um tratamento e recuperar um atleta… Se tiver que fazer tratamento três vezes ao dia, quatro vezes, ficar o dia inteiro no centro de treinamento fazendo a fisioterapia para recuperar, tem que fazer”, bradou.
“Então, ele via um pouco de comodismo em alguns setores e queria mudar essa mentalidade para que o clube se tornasse, de fato, uma grande potência. Essa foi uma das primeiras grandes mudanças. E, depois, é claro que veio o investimento financeiro em atletas. Começaram a chegar grandes nomes, como Pastore, Thiago Mota, Maxwell… Foram chegando nomes fortes, demonstrando que, de fato, o PSG estava em um novo momento, em uma transição para se tornar gigante do futebol mundial”, finalizou.
PSG é “favoritaço” no Mundial?
Questionado se vê o PSG como “favoritaço” a vencer o Mundial de Clubes, Ceará relembrou a grande atuação do time de Luis Enrique na última final de Champions League e se disse impressionado com o futebol da equipe.
O ex-lateral exaltou o time do Bayern, mas admitiu que o Paris tem todos os ingredientes para eliminar o gigante alemão e seguir em busca do troféu da Fifa.
“O PSG está num momento maravilhoso e tem demonstrado isso a cada jogo. O Luis Enrique conseguiu fazer com que o PSG jogue coletivamente de uma maneira muito intensa. Eu estive na final da Champions, lá em em Munique. Quando vi o PSG jogando o primeiro tempo de uma maneira intensa, sufocando a Inter de Milão, eu pensei: ‘Acho que não vão aguentar o segundo tempo. Só que os caras voltaram com a mesma disposição, com a mesma entrega!”, exclamou.
“Eu acredito que é isso que o PSG tem de melhor. É um time que joga compacto, joga em linha alta, pressionando o adversário, levando o adversário ao erro. e com uma transição muito rápida, jovens atletas ali com muito vigor do meio para frente”, descreveu.
“Acredito que vai ser um grande jogo, porque o Bayern também tem essa visão de jogo, de jogar alto e de pressionar o adversário, jogar com linhas mais compactas, então vai ser um grande jogo, mas o PSG tem total condição e capacidade de passar para a semifinal”, argumentou.
E será que algum time brasileiro conseguiria ganhar de novo do PSG, como fez o Botafogo na fase de grupos? Para Ceará, sim, mas desde que seguindo uma “estratégia correta”.
“No futebol, tudo é possível, né? Tudo pode acontecer. Cada jogo é uma história. Não dá para a gente prever de fato o que vai acontecer dentro de uma partida. Podemos até tentar de alguma forma dar as opiniões, mas existem esses imprevistos dentro do futebol”, citou.
“Foi algo que aconteceu com o Botafogo, que jogou por uma bola. O time foi jogando ali bem retrancado, com as linhas bem baixas, criando dificuldade para o PSG. Então, se de repente um outro clube brasileiro, seja Palmeiras ou Fluminense, for à final e enfrentar o PSG, ou até mesmo um outro gigante como o próprio Bayern, na final, é possível vencer”, explicou.
“Em 90 minutos, tudo pode acontecer. Se você tem uma estratégia bem convicta, bem montada, contra um grande clube desses europeus, é possível uma vitória”, complementou Ceará, que já está preparando o passaporte para acompanhar o Paris em uma possível final de Mundial.
“Eu estou bem confiante no PSG, no crescimento do clube e da equipe, para que eles consigam passar o Bayern. Se forem para a final, eu estou querendo ir aos Estados Unidos para assistir essa final”, finalizou.
Onde assistir ao Mundial de Clubes?
O Mundial de Clubes tem transmissão ao vivo pela CazéTV, disponível sem custo adicional no Disney+.