O escândalo que fez Olympique de Marselha não disputar um Mundial de Clubes

Nas 70 edições disputadas até agora da Champions League, o futebol francês não aparece no topo da lista de campeões: o título do Paris Saint-Germain no último 31 de maio foi apenas o segundo da história do país.

A conquista rendeu ao PSG o direito de disputar a Copa Intercontinental ao final de 2025, mas antes os Parisiens tentarão ganhar o Mundial de Clubes na decisão contra o Chelsea no próximo domingo (13), às 16h (de Brasília), no MetLife Stadium em East Rutherford (EUA) com transmissão ao vivo pela CazéTV, disponível sem custo adicional no Disney+.

O capítulo sobre o primeiro francês campeão da Europa poderia ser muito lindo, mas o desfecho trouxe à tona um dos casos mais escandalosos de manipulação de resultados, terminando em título caçado, rebaixamento, processos, prisões e impedimentos.

O Olympique de Marselha viveu uma grave crise esportiva no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, disputando a segunda divisão nacional por temporadas consecutivas, até retornar à elite em 1984. Dois anos depois, o empresário e ex-ministro Bernard Tapie (guarde bem esse personagem) assumiu como presidente para mudar a história do OM – em todos os sentidos.

Com milhões para investir, o político contratou nomes de peso para fazer do clube não apenas campeão nacional, mas também europeu: Abedi Pelé, Eric Cantona, Mozer, Alen Boksic, Enzo Francescoli, Jean Tigana, Didier Deschamps, Fabien Barthez, Marcel Desailly, Rudi Voller e Jean-Pierre Papin foram alguns deles.

O resultado? Quatro títulos consecutivos da Ligue 1 (1989 a 1992), um da Copa da França (1989) e uma final de Liga dos Campeões (1991), perdendo para o Estrela Vermelha (da antiga Iugoslávia) na decisão por pênaltis.

A temporada 1992/93, porém, estava fadada a ser a mais gloriosa de um clube francês. Em maio, o Olympique de Marselha conquistava o Francês pela quinta vez seguida e ainda ganharia a final da Uefa Champions League – a primeira edição com o novo nome – com a vitória por 1 a 0 sobre o Milan, gol do zagueiro Basile Boli.

E foi exatamente no período entre esses dois títulos que o escândalo aconteceu.

A última rodada do Campeonato Francês – marcada para 20 de maio – colocava Marselha e PSG na briga pelo título. O ‘Affaire VA-OM‘ (Caso VA-OM, inicias de Vallencienes e Olympique) teve início na véspera do jogo, quando Bernard Tapie e Jean-Pierre Bernès, respectivamente presidente e diretor esportivo do Marselha, pediram ao meio-campista Jean-Jacques Eydelie para que subornasse três jogadores do time rival – Jorge Burruchaga, Jacques Glassmann e Christophe Robert. Eles deveriam “aliviar” nas divididas em campo, tudo para que o Olympique conquistasse a Ligue 1 e chegasse sem baixas para a final da Champions seis dias depois.

Robert, capitão do Valenciennes, e Burruchaga aceitaram a oferta, mas Glassmann recusou. No jogo decisivo, que teve vitória por 1 a 0 do OM, Jacques Glassmann contou tanto para seu técnico, Boro Primorac, quanto para o árbitro Jean-Marie Véniel o que havia acontecido. O juiz relatou na súmula, e a polícia interrogou alguns jogadores do Marselha no vestiário sobre o assunto.

Duas semanas depois – com o Olympique de Marselha duas vezes campeão -, foi a vez de Christophe Robert confessar o crime para o promotor Éric de Montgolfier (a polícia encontrou o dinheiro do suborno enterrado no quintal da casa de uma tia do jogador). Questionado, Bernard Tapie disse que havia emprestado dinheiro para Robert abrir um restaurante, mas o próprio atleta desmentiu.

Em junho de 1993, jogadores do OM foram interrogados, e Jean-Jacques Eydelie admitiu ter pago a propina. Ele foi detido junto a Jean-Pierre Bernès por “corrupção ativa” – mais tarde, Christophe Robert também acabou preso.

O escândalo logo teve desdobramentos para o Olympique de Marselha em setembro daquele ano: o título francês foi cassado pela federação de futebol (FFF), e o clube não participaria dos torneios que a conquista da Champions League lhe garantia vagas – Supercopa da Uefa, a próxima edição da Liga dos Campeões e a Copa Intercontinental, o Mundial da época.

Vice-campeão, o Milan foi o representante da Uefa e perdeu para o São Paulo por 3 a 2 no Japão.

Meses depois, o Olympique de Marselha acabou rebaixado para a segunda divisão francesa na temporada 1994/95 por causa de irregularidades administrativas e financeiras por parte da gestão de Bernard Tapie, obrigado a deixar a presidência do clube com efeito imediato.

Em maio de 1995, o político foi condenado a dois anos de prisão – oito meses pelo caso de manipulação de resultado e outros 18 meses por fraudar as contas do OM. Ele permaneceu seis meses em detenção até conseguir uma liberdade condicional.

Em entrevista ao jornal L’Èquipe, Arsène Wenger (técnico do Monaco entre 1987 e 1994) resumiu assim o escândalo na década de 1990: “Nós estamos falando sobre o pior período que o futebol francês passou. Estava doente por dentro, por causa da influência e dos métodos de Tapie no Marselha”.

Bernard Tapie morreu em 2021 e recentemente foi homenageado pelo clube com uma estátua em frente ao Vélodrome, estádio do Olympique, na qual segura a taça da Champions enquanto é carregado por Éric Di Meco, Desailly e Deschamps.

Onde assistir a Chelsea x PSG?

Chelsea x PSG, às 16h (de Brasília) do domingo (13), terá transmissão ao vivo pela CazéTV, disponível sem custo adicional no Disney+.

More From Author

Botafogo oficializa venda de zagueiro Jair ao Nottingham Forest

Quem sai maior, ou menor, de Flamengo, Palmeiras, Fluminense e Botafogo no Mundial

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *