O indiciamento de Bruno Henrique, atacante do Flamengo, pela Polícia Federal por supostamente ter forçado um cartão amarelo em jogo do Brasileirão de 2024 para favorecer apostadores trouxe à tona um assunto que assombrou o futebol brasileiro nos últimos anos.
A possibilidade de um jogador protagonista no futebol brasileiro estar envolvido em esquema de apostas ilegais não surpreende um dos grandes responsáveis pela existência da Operação Penalidade Máxima, que investigou manipulações em jogos das Séries A e B do Brasileiro.
“Em relação ao atleta que ganha mais, ganha menos, isso está na questão do desvio de caráter e o desvio de caráter não está atrelado a condição financeira, salário… É um atributo da pessoa. Se ele não encarar as coisas de forma limpa na vida, pode ganhar 100, 200, 300 mil reais, que ele vai continuar fazendo”, disparou o presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, em entrevista à ESPN.com.br.
Em novembro de 2022, o presidente colorado ficou sabendo que um jogador tentou combinar com um companheiro para cometer um pênalti no primeiro tempo da última partida da Série B do Brasileirão, contra o Sport.
O dirigente reuniu informações e provas que desencadearam a denúncia contra os apostadores, que se iniciaram em manipulações na Série B e chegaram à elite do Brasileirão. A investigação foi concluída em junho de 2023, quando oito jogadores denunciados foram punidos pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).
Quase dois anos depois, Hugo Jorge Bravo descarta o rótulo de “herói”, mas acredita que deu uma contribuição importante para salvar a credibilidade do futebol brasileiro. O presidente do Vila Nova disse que “a coisa estava tomando uma proporção gigante”, com jogadores se tornando aliciadores.
“Acho que fui uma pessoa que deu sua parcela de contribuição. Até então nós não tínhamos tido nenhum escândalo como esse em nível de Série B e Série A. Creio que veio em um momento muito oportuno, porque a coisa estava tomando uma proporção, vamos dizer, gigante. Na medida que os atletas que estavam envolvidos no esquema achavam que nem cometendo crimes eles estavam. Os caras achavam que tomar um cartão amarelo, fazer um pênalti, não estava interferindo no resultado do jogo. E os atletas, os aliciados, passaram a ser aliciadores”, disse o presidente.
“Estava virando um círculo vicioso, que poderia ali ter colocado em xeque a credibilidade de todo o futebol. Então quando veio ali, como a gente diz na nossa atividade, aquela ocorrência caiu na mão certa. Caiu na nossa mão e pudemos dar um direcionamento”, destacou.
“Acho que a gente deu nossa contribuição, despertou, fez com que o pessoal se antenasse mais nisso, a questão da contratação de empresas que pudessem fazer a fiscalização de apostas suspeitas, criação de delegacias especializadas. Acho que demos uma contribuição importante”, reforçou.
E as punições?
De acordo com o levantamento feito pela ESPN, dos 33 jogadores investigados pelo STJD na Operação Penalidade Máxima, 23 já têm condições legais de entrarem em campo. Apenas Diego Porfírio, Gabriel Tota, Matheus Gomes, Romário e Ygor Catatau foram banidos do futebol.
Cinco jogadores foram suspensos por dois anos, enquanto 15 cumpriram diferentes penas e retornaram aos gramados. Um deles, inclusive, foi Thonny Anderson. Punido pelo STJD com uma multa de R$ 40 mil, o ex-meia de Grêmio e Red Bull Bragantino tirou o acesso do Vila Nova à elite do Brasileirão ao marcar dois gols na vitória do ABC sobre o Tigre, por 3 a 2, na última rodada da Série B do Brasileirão de 2023.
Para o presidente do Vila Nova, o recado dado pela Justiça Desportiva com as punições foi “o pior possível”.
“É piada (as punições), piada. Eu falei na CPI, tinha que ser objeto de apuração criminal o que aconteceu. O que foi feito foi uma piada. Tivemos atletas do Vila banidos, atleta que emprestou a conta banido, e teve atleta de Série A que participou dessa engenharia criminosa que tomou uma multa de 40 mil reais. Em 2023 nós perdemos o acesso, contra o ABC, e o atleta que fez dois gols do adversário e foi o diferencial da partida, foi um dos atletas que caiu na operação que a gente denunciou, chamado Thonny Anderson”, lembrou.
“Isso aí, eu falo para você, em qualquer país que tivesse o mínimo de seriedade de quem julga, estariam banidos. Ah, quer dar uma segunda chance? Vai montar uma distribuidora de bebidas, vai estudar, vai se tornar advogado, vai virar corretor de imóveis, vai fazer o que for, mas não é mais jogador de futebol. Infelizmente, o recado que a Justiça Desportiva deu foi o pior possível”, afirmou Hugo Jorge Bravo.
A lista completa dos jogadores punidos pelo STJD na Máfia das Apostas:
Banidos
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Diego Porfírio – eliminação e multa de R$ 60 mil
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Gabriel Tota – eliminação e multa de R$ 30 mil
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Matheus Gomes – eliminação e multa de R$ 10 mil
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Romário – eliminação e multa de R$ 80 mil
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Ygor Catatau – eliminação e multado em R$ 70 mil
Suspensos por dois anos e prestes a voltar
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Gabriel Domingos – Punido e multado em R$ 80 mil
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Moraes – Punido e multado em R$ 55 mil
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Nino Paraíba – Punido e multado em R$ 100 mil
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Paulo Miranda – Punido e multado em R$ 70 mil
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Vitor Mendes – Além da punição, foi multado em R$ 70 mil
Cumpriram pena
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Alef Manga – 360 dias e R$ 50 mil de multa – Joga no Avaí (SC)
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André Luiz – 600 dias e multa de R$ 50 mil – Está sem clube
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Bryan García – 360 dias e multa de R$ 50 mil – Está no Independiente del Valle (EQU), que está na CONMEBOL Libertadores 2025
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Dadá Belmonte – 600 dias e R$ 70 mil de multa – sem clube
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Eduardo Bauermann – 360 dias e multa de R$ 35 mil – Joga no Pachuca (MEX), que jogará o Mundial de Clubes 2025
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Fernando Neto – 360 dias e multa de R$ 15 mil – Está no Villa Nova (MG)
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Igor Cárius – 360 dias e R$ 40 mil – Joga no Sport (PE)
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Kevin Lomónaco – 360 dias e multa de R$ 25 mil – Está no Independiente (ARG), que jogará na CONMEBOL Sul-Americana 2025
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Mateusinho – 600 dias e multa de R$ 50 mil – Joga pelo Cuiabá (MT)
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Nathan – multa de R$ 10 mil – Joga no Grêmio (RS)
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Nathan Palafoz – 360 dias e multa de R$ 20 mil – defende o Cianorte (PR)
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Paulo Sérgio – 600 dias e multa de R$ 50 mil – Atualmente sem clube
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Richard – multa de R$ 10 mil – Defende o Alanyaspor (TUR)
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Sávio Alves – 360 dias e multa de R$ 30 mil – Defende o Remo (PA)
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Thonny Anderson – multa de R$ 40 mil – Joga no Tokushima Vortis (JAP)
Absolvidos
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Allan Godói – Operário (PR)
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Jarro Pedroso – Monsoon (RS)
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Jesús Trindade – está no Barcelona (EQU)
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Joseph – Operário (PR) – processo arquivado
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Nikolas Farias – aposentado
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Pedro Henrique – Shakhtar Donetsk (UCR)
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Sidcley – sem clube
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Victor Ramos – Rio Branco (PR)