Há um vácuo de poder na Conferência Leste da NBA. As novas regras salarias e as graves lesões de algumas das estrelas modificaram a prateleira de forças na costa banhada pelo Oceano Atlâncico nos EUA. Atlanta Hawks, Orlando Magic e Detroit Pistons emergem como novos candidatos ao topo da Conferência, aproveitando os problemas dos antigos dominantes. Por isso, uma nova era pode surgir na conferência, com protagonistas até então difíceis de prever.
Líderes com dificuldades
O maior símbolo desta situação é o Boston Celtics. Com a lesão de Jayson Tatum, a franquia resolveu antecipar o desmonte do elenco para se livrar das multas e das restrições por estourar o teto salarial da liga. Jrue Holiday e Kristaps Porzingis foram trocados por jogadores mais baratos, enquanto Luke Kornet não teve seu contrato renovado e foi para o San Antonio Spurs.
O Indiana Pacers, vice-campeão da última temporada, também terá problemas. Sem Tyrese Haliburton, que rompeu o tendão de Aquiles durante o Jogo 7 das Finais, a equipe também decidiu baratear a folha salarial para não arcar com multas em um ano que terá sua principal estrela. Assim, Myles Turner ficou livre no mercado para assinar com o Milwaukee Bucks.
Falando na franquia de Wisconsin, para arcar com o contrato de Turner, Damian Lillard pagou o pato. O astro foi dispensado para liberar espaço no orçamento para absorver o novo pivô. A manobra é arriscada e comprometerá a folha dos Bucks pelas próximas cinco temporadas até encerrar os pagamentos ao Lillard e as multas pela dispensa dois anos antes do fim do contrato. Além disso, o elenco ainda não tem um armador confiável.
Já o Cleveland Cavaliers não terá Darius Garland durante a primeira metade da temporada, por conta de uma cirurgia para tratar uma lesão no pé, que já o prejudicou nos playoffs. Também por questões financeiras, não conseguiu renovar com Ty Jerome, um dos principais reservas do último ano, que foi para o Memphis Grizzlies. Após uma temporada regular de gala, em que garantiu a liderança da conferência, a equipe sofreu nos playoffs e colocou em cheque a estratégia para os próximos anos.
Por fim, o New York Knicks é, talvez, a equipe mais empolgante dentre as que terminaram no top 5 do Leste na última temporada. A franquia contratou Guerschon Yabusele e Jordan Clarkson, qualificando o elenco que sofreu com a falta de rotação nos últimos playoffs. Mas ainda não contratou um novo técnico após a demissão de Tom Thibodeau e segue com um garrafão instável, sem um reserva confiável para Karl-Anthony Towns.
Quem vai ocupar o trono?
Hawks, Magic e Pistons, este apenas na última temporada, conseguiram montar elencos interessantes nos anos anteriores, mas não o suficiente para brigar pelo título. Quase sempre rondando o meio de tabela e a disputa do play-in, são franquias que, agora, enxergam a distância encurtada para o topo da conferência.
É como se uma nova peça ou uma troca certeira subisse os elencos de patamar o suficiente para disputar a classificação direta aos playoffs e, quem sabe, o título do Leste. Por conta das questões do tópico anterior, é possível sonhar. Com nomes sedutores nas trocas com outras franquias e espaço na folha salarial (ou ao menos disposição de pagar algumas multas para brigar pelo título), as três franquias podem ser os novos destaques da conferência.
Atlanta Hawks
O time tem uma base sólida, com Trae Young vindo de sua melhor temporada na carreira, além de bons nomes de apoio como Dyson Daniels (líder em roubos de bola na NBA e vencedor do prêmio de Maior Evolução), Jalen Johnson e Risacher, dois jovens ‘two-way’, muito competentes nos dois lados da quadra, além de De’Andre Hunter, Bogdanovic e Okongwu como jogadores de qualidade no elenco.
Nesta offseason, a franquia conseguiu adicionar Kristaps Porzingis, Nickeil-Alexander Walker e Luke Kennard ao plantel. Além da maior profundidade pelo maior número de jogadores de qualidade, ganha em defesa, com Porzingis e NAW e, principalmente, poder de fogo no perímetro, especialidade dos três novos nomes. Destaque para o papel de Trae Young no convencimento de NAW e Kennard para se juntarem ao time, mostrando engajamento do principal nome do time para a próxima temporada.
No Draft, selecionaram Asa Newell na escolha 23, ala-pivô de 2,11m de muita explosão física, com destaque para os cortes em direção à cesta e disputa pelos rebotes. Na defesa, o tamanho e velocidade lateral permitem marcar várias posições, mostrando potencial para fazer parte do elenco já nesta temporada, principalmente enquanto Jalen Johnson se recupera da lesão no ombro.
Orlando Magic
Paolo Banchero e Franz Wagner são duas estrelas na NBA. A dupla de alas comanda todas as ações da equipe, ainda que o Magic tenha um dos ataques mais travados da liga. Muito disso acontece pelas dificuldades no espaçamento ofensivo. Este problema tende a ser resolvido com a troca por Desmond Bane, um dos principais chutadores da competição.
Caso o ataque consiga finalmente ficar mais dinâmico, as expectativas sobre a equipe aumentam consideravelmente. Além disso, o elenco de apoio é jovem e pode dar um salto de qualidade no próximo ano. Jalen Suggs tem apenas 23 anos, Tristan da Silva também, Anthony Black é ainda mais novo, de 21 anos. Os próprios Banchero e Wagner têm 22 e 23 anos, respectivamente. O plantel ainda conta com Mo Wagner, um dos principais bancários da última temporada até a lesão que o tirou de quadra.
No Draft, Orlando selecionou Jase Richardson na escolha 25. O armador é filho de Jason Richardson, um dos bons armadores do início do século, com passagens de sucesso pelo Golden State Warriors e, inclusive, pelo Magic. No basquete universitário, Jase se destacou como um pontuador nato, de grande arremesso do perímetro e muita velocidade no corte em direção à cesta.
Outra escolha foi a de Noah Penda na 32. O ala francês de 22 anos se mostrou um 3&D sólido, com muito espaço para crescer. Não deve ter um grande impacto na temporada, mas pode se tornar uma peça importante no futuro.
Detroit Pistons
A franquia teve um dos maiores saltos da história da NBA. De apenas 14 vitórias em 2023/24, os Pistons foram para 44 em 2024/25, garantindo o 6° lugar no Leste e a classificação direta aos playoffs, quando deu muito trabalho para os Knicks na primeira rodada. Este crescimento já é um exemplo do que mais experiência e as aquisições certas podem fazer: a maior diferença de um ano para o outro foi a contratação de Malik Beasley e Tim Hardaway Jr., dois chutadores natos, embora nem fossem os destaques da liga no quesito.
Coincidentemente, os dois nomes não ficarão para a próxima temporada. Mas a franquia já garantiu as chegadas de Caris LeVert e Duncan Robinson, mantendo a força do perímetro e apostando na evolução de nomes como Cade Cunningham, Jaden Ivey e Ausar Thompson.
Novos movimentos ainda devem acontecer: o orçamento é um dos mais baixos da NBA, com muito espaço para absorver grandes contratos, dando potencial para fazer grandes ofertas para os agentes livres no mercado.
No Draft, selecionou apenas Chaz Lanier na escolha 37. O armador de 23 era um dos mais experientes da classe, com muita qualidade no ataque, com mais de 40% de aproveitamento nos chutes de perímetro no basquete universitário. Por chegar mais pronto, em tese, que seus companheiros de Draft, pode ganhar alguns minutos no revezamento com Cade Cunningham já neste ano. Além dele, o ala sueco Bobi Klintman, selecionado no Draft de 2024, deve ter mais espaço na próxima temporada após perder todo o último ano por uma lesão na panturrilha.
E o Philadelphia 76ers?
O Processo nunca chegou perto de alcançar os resultados necessários. Muitas das escolhas coletadas pelos 76ers não vingaram da maneira esperada, mas o elenco atual é qualificado o suficiente para imaginar uma disputa na parte de cima da tabela. Mas para isso acontecer os principais nomes precisam estar saudáveis, coisa que não aconteceu em 2024/25. Mas caso Joel Embiid, Tyrese Maxey, Jared McCain e Paul George (caso fique na Philadelphia) consigam jogar toda a temporada, não seria uma surpresa que a equipe possa disputar o topo da conferência. Mas o passado recente nos ensinou a ajustar as expectativas com a franquia, que apesar de decisões lógicas, tem sofrido com fatores imponderáveis ano após ano.